Qual é a novidade dessas duas referências? Simples: os governos de Lula e Dilma (que eu insisto em qualificar como dois dos maiores avanços na história política recente do país) imaginaram que poderiam escrever a história como bem entendessem? Imaginaram que, em algum momento, não teriam sobre si a contrapartida dessa convivência promíscua com o poder econômico e com o que há de pior na política brasileira - os lobbies empresariais, midiáticos, políticos? Pois me parece que é isso o que está acontecendo agora.
Diz a matéria do Estadão que a empreiteira UTC perdeu um pouco da compostura quando conversou com Paulo Okamotto, sócio de Lula: a empresa, que doou R$ 21,7 milhões "para campanhas do PT" e R$ 7,5 milhões só para a reeleição de Dilma, queria "orientação" do ex-presidente para safar-se da encrenca em que se meteu (vale a pena ler o relato dramático que culmina com a orientação dada ao empresário para que procurasse "alguém do governo"). Pera lá: R$ 21,7 milhões só de uma empresa? Alguém pode acreditar que esses "trocados" não são um compromisso tácito que, em algum momento, não seria cobrado?
A outra novidade inscrita nos jornais de ontem é a da ameaça de demissões de trabalhadores e de paralisação das obras. Se minha leitura não estiver equivocada, interpreto esses itens como exigências insinuadas de pagamento de um resgate, pois que demissões de trabalhadores e suspensão de obras estão talvez entre as principais prioridades da estabilidade social e econômica do país. Mas essa é a contrapartida pela ousadia que o Juiz Sérgio Moro revela em escarafunchar os desmandos que a facção das empreiteiras teria (o condicional é forçoso, visto que o inquérito ainda não está concluído) cometido contra o patrimônio nacional ao privatizar suas relações com o Estado e ao transformar os recursos da sociedade em instrumento de enriquecimento (leia aqui a análise do El País sobre as dimensões políticas do escândalo da Lava Jato)
Diz a matéria do Estadão que a empreiteira UTC perdeu um pouco da compostura quando conversou com Paulo Okamotto, sócio de Lula: a empresa, que doou R$ 21,7 milhões "para campanhas do PT" e R$ 7,5 milhões só para a reeleição de Dilma, queria "orientação" do ex-presidente para safar-se da encrenca em que se meteu (vale a pena ler o relato dramático que culmina com a orientação dada ao empresário para que procurasse "alguém do governo"). Pera lá: R$ 21,7 milhões só de uma empresa? Alguém pode acreditar que esses "trocados" não são um compromisso tácito que, em algum momento, não seria cobrado?
A outra novidade inscrita nos jornais de ontem é a da ameaça de demissões de trabalhadores e de paralisação das obras. Se minha leitura não estiver equivocada, interpreto esses itens como exigências insinuadas de pagamento de um resgate, pois que demissões de trabalhadores e suspensão de obras estão talvez entre as principais prioridades da estabilidade social e econômica do país. Mas essa é a contrapartida pela ousadia que o Juiz Sérgio Moro revela em escarafunchar os desmandos que a facção das empreiteiras teria (o condicional é forçoso, visto que o inquérito ainda não está concluído) cometido contra o patrimônio nacional ao privatizar suas relações com o Estado e ao transformar os recursos da sociedade em instrumento de enriquecimento (leia aqui a análise do El País sobre as dimensões políticas do escândalo da Lava Jato)
Diz o mesmo jornal que o Ministério Público cobra das empresas envolvidas na Lava Jato a devolução aos cofres públicos de R$ 4,47 bilhões (governo quer evitar isso, claro: como eu disse no twitter, se virar filme, as manobras ensaiadas pelo governo para evitar que as investigações sigam até o fim ganha o Oscar do milênio).
Minha impressão é a de que esse valor pode perfeitamente voltar ao Tesouro Nacional pela via da estatização dessas empreiteiras e, com isso, preservar-se não só a manutenção de todos os trabalhadores em suas atividades, mas também a continuidade das obras.
Minha impressão é a de que esse valor pode perfeitamente voltar ao Tesouro Nacional pela via da estatização dessas empreiteiras e, com isso, preservar-se não só a manutenção de todos os trabalhadores em suas atividades, mas também a continuidade das obras.
Eis aí um bom motivo - e um bom momento - para que o governo do PT volte às origens de seus compromissos sociais - que é a fonte última do poder que imaginam possuir.
Na lenda do Fausto, a megalomania do cientista para obter o conhecimento absoluto na negociação que faz com Mefisto não chega a ser punida com a danação eterna como o senso comum interpretou a história, mas recuperada como símbolo da razão e do Iluminismo. Acho que Lula, Dilma, Cardozo poderiam tentar ir por aí... antes que a casa toda caia.
* As referências usadas nesta postagem sobre a tragédia Fausto foram consultadas em Fausto: a busca pelo absoluto, de autoria da Profa. Eloá Heise (revista Cult).
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