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Comuna de Paris, 1871? Nada disso: a greve geral em São Paulo em 1917. Mais de 10 mil operários contra as fábricas das Mooca e do Ipiranga por melhores condições de trabalho. Esse movimento teria alguma coisa a ver com a Comuna? Tudo, exceto na cabeça dos caras que formularam a proposta do novo programa de História para o ensino médio. |
Eis aí toda a atualidade, toda a riqueza, toda a complexidade e toda a pedagogia da História. Na verdade, é a História que oxigena a esfera pública como elemento referente da formação intelectual e com os sentidos postos nos processos sociais universais. Teria a Comuna de Paris algo a ver com a eclosão de movimentos conservadores na América Latina ou com o anti-republicanismo e anti-abolicionismo no Brasil? Ou se trata de um episódio cuja razão é exclusivamente eurocêntrica e a luta de classes não passa de um refinamento conceitual abstrato da filosofia alemã?
Parece que essa dialética toda que preenche nossa compreensão sobre o universal e o particular, sobre as identidades sócio-culturais que se constróem à margem da significação localizada - ou apesar dela - não faz parte da inteligência dos "especialistas" que estão propondo a nova base curricular de História para o ensino médio. Podemos ter que sair daquilo que esse pessoal chama vulgarmente de "visão europeia" - organizada como uma centralidade - e entrar arbitrariamente em cena com uma "visão periférica" - a ser organizada como um protagonismo descentralizado, como se isso fosse possível, esse divórcio mecanicista que só vai entrar em cena como acessório, como complemento...
Parece que essa dialética toda que preenche nossa compreensão sobre o universal e o particular, sobre as identidades sócio-culturais que se constróem à margem da significação localizada - ou apesar dela - não faz parte da inteligência dos "especialistas" que estão propondo a nova base curricular de História para o ensino médio. Podemos ter que sair daquilo que esse pessoal chama vulgarmente de "visão europeia" - organizada como uma centralidade - e entrar arbitrariamente em cena com uma "visão periférica" - a ser organizada como um protagonismo descentralizado, como se isso fosse possível, esse divórcio mecanicista que só vai entrar em cena como acessório, como complemento...
Há duas ou três explicações para a proposta. Uma delas é a dos proponentes, que me parece obedecer uma orientação ideológica que já foi apontada por Renato Janine Ribeiro assim que ele deixou o MEC (leia aqui), mas uma orientação ideológica pedestre, utilitarista e funcionalista, não propriamente uma articulação conceitual e ontológica. Se os proponentes imaginam que sairá desse ensino um estudante melhor capacitado a entender as contradições sociais, podem esperar sentados.
A segunda advém mesmo de uma deficiência latente que os proponentes do novo currículo têm do ponto de vista teórico-metodológico sobre a História. Qual é a corrente de pensamento que advoga essa perspectiva segmentada que sugere uma hierarquia de causalidade que dispensa a compreensão sistêmica do processo histórico? É possível entender toda a integralidade constitutiva das sociedades africanas sem que elas sejam vistas do ponto de vista de sua interação contraditória e conflituosa, por exemplo, com o caráter expansivo e complexo do capitalismo comercial?
A terceira não está ligada propriamente à desastrada proposta feita por essa comissão - se é de comissão que se trata - mas de um viés da crítica que envolveu os impagáveis coordenadores pedagógicos das escolas - particulares, diga-se - que servem de referência para a apuração que a imprensa fez sobre o tema: a proposta é ruim porque não prevê o que a Fuvest pede, é o conteúdo essencial dessa crítica. De jornalistas que raramente sabem do que estão falando quando o assunto é Educação, pode-se imaginar que a Fuvest seja mesmo vista como a instituição que fixa os parâmetros do projeto pedagógico do país, mas de "coordenadores" esperar um tal nível de desorientação... A proposta é ruim porque ela peca gravemente contra a formação intelectual do estudante, só por isso, e esse é um assunto sobre o qual a Fuvest entende muito pouca coisa.
Tomara que o MEC não referende isso.
* Leia também A abolição da História (Demétrio Magnoli)
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A segunda advém mesmo de uma deficiência latente que os proponentes do novo currículo têm do ponto de vista teórico-metodológico sobre a História. Qual é a corrente de pensamento que advoga essa perspectiva segmentada que sugere uma hierarquia de causalidade que dispensa a compreensão sistêmica do processo histórico? É possível entender toda a integralidade constitutiva das sociedades africanas sem que elas sejam vistas do ponto de vista de sua interação contraditória e conflituosa, por exemplo, com o caráter expansivo e complexo do capitalismo comercial?
A terceira não está ligada propriamente à desastrada proposta feita por essa comissão - se é de comissão que se trata - mas de um viés da crítica que envolveu os impagáveis coordenadores pedagógicos das escolas - particulares, diga-se - que servem de referência para a apuração que a imprensa fez sobre o tema: a proposta é ruim porque não prevê o que a Fuvest pede, é o conteúdo essencial dessa crítica. De jornalistas que raramente sabem do que estão falando quando o assunto é Educação, pode-se imaginar que a Fuvest seja mesmo vista como a instituição que fixa os parâmetros do projeto pedagógico do país, mas de "coordenadores" esperar um tal nível de desorientação... A proposta é ruim porque ela peca gravemente contra a formação intelectual do estudante, só por isso, e esse é um assunto sobre o qual a Fuvest entende muito pouca coisa.
Tomara que o MEC não referende isso.
* Leia também A abolição da História (Demétrio Magnoli)
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